Com quatro vitórias, dois empates e quatro derrotas nas últimas 10 partidas de Premier League, o Chelsea despencou da segunda posição na competição nacional para a 5ª colocação, fora da zona de classificação para a próxima edição da UEFA Champions League e com uma temporada muito abaixo do esperado, muito debate tem acontecido sobre o futuro de Antonio Conte no comando do Chelsea, e o histórico recente sugere que o clube irá prosperar independente da identidade do treinador. Mas será que a velocidade com que os treinadores são “demitidos” destaca uma falha no atual modelo de gestão do Chelsea? Isso que iremos abordar nesta matéria.
À medida em que os três gols do Bournemouth saiam em Stamford Bridge, os do Watford no Vicarage Road, a apatia da equipe no segundo tempo contra o Manchester United em Old Trafford e a falta de “ousadia” contra o Manchester City, mais e mais questionamentos apareciam sobre a equipe e o treinador Antonio Conte. Não que haja alguém que questione o currículo de Antonio Conte como treinador, já que “quatro títulos” de Liga em cada uma das suas últimas quatro temporadas dirigindo um clube mostram que ele sabe o que está fazendo, mas o Chelsea tem seu modelo, e a história “sugere” que funciona.
A decisão de demitir André Villas-Boas e substituí-lo por Roberto Di Matteo no meio da temporada 2011/12 foi recompensada pelo tão sonhado título da UEFA Champions League e a conquista da FA Cup. Mesmo sendo “odiado” pelos torcedores, Rafa Benitez na temporada seguinte entregou ao clube o título da UEFA Europa League e após ser sucedido por José Mourinho o Chelsea ainda conquistou uma Premier League e uma Copa da Liga. O treinador português que era tão amado pelos torcedores saiu e o clube sobreviveu a este colapso, e o resultado: O Chelsea conquistou mais uma Premier League, desta vez com Antonio Conte no comando técnico, mostrando que a renovação constante é a escolha do Chelsea.
Esta tem sido a maneira do clube “corrigir” o que não vinha mais funcionando em campo. Os treinadores vêm e vão, mas os torcedores “reconhecem” o sucesso recente.
O nome de Antonio Conte tem sido cantado pelos torcedores nas partidas recentes, da mesma maneira com que o de Mourinho foi cantado antes de sua queda, mas em tempo de apatia ou frustração, o dono do clube, Roman Abramovich age antes que isso se infiltre cada vez mais e os torcedores já estão acostumados.
Analisando mesmo que superficialmente, o Chelsea não teve problemas para “substituir” treinadores como o Manchester United teve após a saída de Sir Alex Ferguson.
Não é coisa do Chelsea viver o mal-estar com o treinador como vive o Arsenal, onde o fracasso é tolerado sem pagar por pagar. O Chelsea tem seu modelo e não teve medo quando a opção foi a troca de comando.
No entanto, nesta temporada isso tem sido um problema. A velocidade com que a crise tem se instalado na equipe tem sido alarmante. Não está sendo exatamente como o colapso vivido sob a gestão de José Mourinho, mas quatro derrotas nos últimos seis jogos (principalmente as sofridas para Bournemouth e Watford) mostram que o clube perdeu duas partidas consecutivas por esta margem de gols pela primeira vez em quase um quarto de século.
Dois títulos de Premier League nas últimas quatro temporadas evidenciam que o Chelsea pode gerenciar bem uma mudança, mas as falhas após o sucesso tem se tornado uma característica do Chelsea. A propensão do Chelsea à demissão de treinadores tem resolvido um problema mas criado outro: Porque os jogadores vão lutar para melhorar as coisas quando eles sabem como a história acaba?
A adversidade pode ser um catalisador para o clube se juntar mas será esta a verdade para esta equipe do Chelsea?
O desafio é escalar a montanha novamente e jogadores como Eden Hazard e Willian já responderam em mais de uma ocasião.
Antonio Conte é um treinador de detalhes. Seu trabalho tático no campo de treinamento é repetitivo. A concentração no dia de jogo é primordial. Até que aconteceram boas vitórias contra grandes adversários fora de casa como contra o Tottenham (1×2 em Wembley) e Atlético de Madrid (1×2 no Wanda Metropolitano), enquanto o Manchester United sofreu e foi derrotado em Stamford Bridge (1×0), mas em jogos menores, quando os jogadores não foram tão rápidos para entender aspectos táticos, surgiram os problemas.
Sucessor de José Mourinho, Antonio Conte lutou para ter o mínimo de excelência como defensor do título. Depois da derrota para o Watford, o italiano afirmou:
“Você acha que um clube pode decidir demitir um treinador se não houver o apoio dos jogadores? Penso que só aqui, só aqui, você acha isso. Você acha que os jogadores têm esse poder? Sim? Isso é errado”.
Confira aqui a entrevista completa de Antonio Conte após a derrota para o Watford.
A frustração de Conte é compreensível. Apesar do bom recorde na última temporada, ele passou por um período difícil. Na Juventus também viveu uma sequência de quatro jogos sem vencer, mas se recuperou e ganhou títulos. Para esta temporada muitos jogadores foram “pedidos” pelo italiano para defender o título, mas opções mais “baratas” chegaram, mas o maior questionamento é que com este elenco, o Chelsea era sim capaz de ter feito mais contra Burnley, Crystal Palace, West Ham United, Bournemouth e Watford (equipes fora dos Big Six), derrotas que tornam esta uma temporada ainda mais decepcionante.
O Arsenal passou um longo período sem conquistas, o Tottenham mesmo tendo feito boas temporadas não vem conquistando nada, Pep Guardiola não conquistou nada em seu primeiro ano no Manchester City mas em nenhum momento a sua posição como treinador foi questionada, assim como Mourinho no Manchester United, o que prova que nestes clubes a posição de treinador é mais “segura”.
No Chelsea de Roman Abramovich, a garantia de um trabalho a longo prazo é uma das poucas vantagens não inclusas nos contratos dos treinadores em um dos clubes que tem a gestão mais lucrativa do futebol mundial.
No Chelsea as regras são diferentes e durante muito tempo, o benefício de ter muitos jogadores de qualidade no elenco fez com que as mudanças funcionassem. Talvez possa novamente.
Mas o que é alarmante, é que na medida que as demissões acontecem, torna-se mais difícil um treinador de alto nível aceitar o trabalho no Chelsea e com o clube sem condições de ser “dominante” financeiramente, talvez seja necessária uma estratégia mais rápida e eficiente.
A constante mudança sempre foi uma característica do clube, mas as evidências de que há um alto custo estão crescendo. Esta é a grande falha do Chelsea!