Da saída de um ídolo à chegada de uma aposta

O que Thomas Tuchel pode apresentar de novidades ou diferenças em relação à Frank Lampard no Chelsea de 2020-21

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O dia 25 de janeiro de 2020 foi um dia marcante e emotivo para todos os torcedores do Chelsea. A demissão do treinador Frank Lampard, após 18 meses de clube, ainda está dando o que falar, e mesmo para aqueles que eram favoráveis a saída do treinador, o sentimento agora é de mais profunda incerteza pro restante da temporada e para a próxima que se sucederá.

Logo após sua saída, as especulações sobre o novo comandante dos Blues iniciaram com bastante força. Em matéria do jornal inglês The Athletic, nos foi repassado que a diretoria, inicialmente, havia entrado em contato com nomes como Julian Nageslmann, do Leipzig, e até oferecido um contrato de 4 meses para Ralf Rangnick, atualmente sem clube; todavia, todos recusados.

O clube acabou acertando, após esse período de “luto” pela saída do ex-treinador, com o jovem alemão Thomas Tuchel, que estava sem clube, e que esteve em sua última passagem por clubes no comando do Paris Saint Germain. Tal qual Lampard em sua primeira temporada no Chelsea, é um nome que gera mais dúvidas do que certezas, e até certa rejeição do torcedor. Mas será que Tuchel é mesmo assim tão ruim quanto pensamos?

Com o intuito de sanar esses questionamentos a seu respeito, resolvemos escrever esse texto apresentando ao torcedor o treinador alemão, falando um pouco sobre sua carreira, sobre seu estilo de jogo, sobre seus sucessos e fracassos, sobre o atual contexto em que chega ao clube e sobre as expectativas a serem geradas sobre seu novo trabalho.

Quem é Thomas Tuchel?

Thomas Tuchel é um treinador de 47 anos, alemão e ex-zagueiro (não teve muito sucesso nessa função). Seu primeiro trabalho foi como treinador da equipe sub-15 do Stuttgart, passando para sub-19 do Augsburg, e logo em seguida, do sub-19 também do Mainz 05, sendo campeão do campeonato alemão juvenil, subindo em sequência para o profissional do mesmo. Demonstra, em início de carreira, uma boa aproximação com as categorias e com os atletas de base.

No Mainz 05, passou 4 temporadas completas, sendo tratado como uma das grandes revelações da nova geração de treinadores alemães, impressionando bastante os torcedores e críticos na época. Em sua primeira temporada, com elenco bastante limitado, colocou a equipe na 5ª colocação da Bundesliga. Em sua última temporada, acabou deixando a equipe na 7ª colocação no campeonato geral, sendo responsável por apresentar diversos jogadores da base e contratar outros jovens nesse período.

Logo em seguida, em 2015, rumou para a equipe do Borussia Dortmund, vivendo sob a sombra da passagem de Jurgen Klopp na equipe e na expectativa da realização de um grande trabalho na sequência. Em sua primeira temporada, teve bons resultados e deixou a equipe na 2ª colocação na Bundesliga, novamente apostando em jovens talentos, e até da base, buscando uma revitalização do elenco.

Na temporada seguinte, embora tenha apenas chegado a 3ª colocação na Bundesliga, conquistou a Copa da Alemanha e levou a equipe às quartas de final da Liga dos Campeões. Após conflitos internos, deixou o cargo no clube, com 68 vitórias, 23 empates e 17 derrotas em 108 jogos, com aproveitamento de 62.96%.

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Assumiu o Paris Saint Germain em 2018, e por lá foi bicampeão da Ligue 1, uma vez da Coupe de France e da Coupe de la Ligue, bicampeão da Trophée des Champions (supercopa francesa) e finalista da Liga dos Campeões, perdendo a final para a equipe do Bayern de Munique, sendo demitido em dezembro de 2020, com 95 vitórias, 13 empates e 19 derrotas em 127 jogos, terminando sua passagem com 74.8% de aproveitamento. Esta foi sua última equipe antes de assumir o Chelsea.

Estilo de Jogo

Na Alemanha, Tuchel ficou sendo conhecido por seu conhecimento tático diverso e por sua flexibilidade em implementar métodos inovadores e até científicos em seus treinamentos. Com seu 4-3-3 habitual, possui um estilo de jogo bastante vertical, com 2 pontas velozes e de qualidade de drible, Tuchel posicionava o seu primeiro volante próximo à linha de zaga, funcionando como um “regista”, além de liberar os zagueiros para o ataque e a saída de bola, aumentando a linha de marcação, visando diminuir a sobrecarga de marcação a ser realizada pelos atacantes.

É adepto também do “gegenpressing”, ou “contra-pressão” que é basicamente uma tática onde, após a perda da posse da bola, o time imediatamente volta para reconquistá-la, ao invés de se reagrupar, exigindo que cada atacante mude para a defesa para recuperar a bola. Essa é uma característica de equipes bastante intensas, como as de Jurgen Klopp.

Em termos de escalação, é provável que organize seu 4-3-3 com Kanté e Jorginho como seus volantes centrais, tendo o ítalo-brasileiro como seu regista, o francês como seu “box-to-box” e com Havertz ou Mount sendo o meia que empurra o time pra frente, para escalonar os ataques e romper a defesa adversária.

Paris Saint-Germain’s Brazilian defender Thiago Silva (R) is congratulated by Paris Saint-Germain’s German coach Thomas Tuchel (L) at the end of the French L1 football match between Paris Saint-Germain (PSG) and Lille (LOSC) at the Parc des Princes stadium, in Paris, November 2, 2018. (Photo by FRANCK FIFE / AFP) (Photo credit should read FRANCK FIFE/AFP via Getty Images)

Além disso, é possível também que jogadores como Thiago Silva e Pulisic, que já treinaram com ele, sejam referências na equipe, juntamente com Rudiger e Jorginho (atletas que ele buscou levar ao PSG), e Havertz e Werner (jogadores habituados ao idioma e ao estilo alemão do treinador).

Polêmicas: o que esperar de Tuchel no Chelsea?

Mesmo com um padrão de jogo bem definido e, dentro do futebol atual, sendo considerado um jogo ofensivo, por que então há tantos receios e críticas negativas quanto ao novo comandante? Em que pese, o primeiro fator seria sua inexperiência. Ainda se trata de um treinador jovem, mesmo com certa rodagem, o que pode pesar na hora de enfrentar grandes desafios. Diferentemente do Lampard, que é um ídolo e com identificação plena com o torcedor, Tuchel ainda não possui isso, e terá que lutar bastante para conseguir.

O segundo fator, e este talvez seja o mais crucial em sua carreira, seja sua personalidade, que com frequência costuma entrar em confronto com a hierarquia do clube. No Dortmund, chegou a realizar publicamente críticas direcionadas à direção do clube, ao presidente do clube, Hans-Joaquim Watzke, e ao diretor de futebol ,Michael Zorc, quanto às contratações realizadas na época. No PSG não foi diferente. O alemão frequentemente entrava em conflito com o dirigente brasileiro Leonardo, novamente sobre a postura do clube quanto às transferências, constantemente gerando no seu cargo como treinador.

Como torcedores e acompanhantes a longa data do Chelsea, sabemos das inúmeras relações ruins plantadas entre diretoria e treinadores, além de um elenco normalmente bastante difícil de se lidar. A inexperiência somada à instabilidade em manter relações de Thomas Tuchel pode acabar sendo um fator determinante em sua estadia em Londres. Treinadores como Felipão, Villas-Boas, Antonio Conte, Maurizio Sarri, e até mesmo Frank Lampard, demonstraram insatisfação quanto às posturas por parte dos dirigentes do clube, o que levou às suas rápidas demissões.

Thomas Tuchel em seu primeiro jogo no comando do Chelsea (Foto by FRANK AUGSTEIN/POOL/AFP via Getty Images)

Por outro lado, algo que pode agradar ao torcedor blue, é o fato de que Tuchel gosta e costuma aproveitar e dar chances a diversos jovens atletas, mesclando-os com os veteranos. Jogadores como Schurrle, Pulisic, Dembelé, Mbappe, Kimpembe e Kehrer, por exemplo, foram lançados ou contratados em seus clubes por ele, o que é algo que soa como música para o torcedor, que a cada dia que passa quer ver suas jóias de Cobham sendo lançadas para o mundo como atletas do Chelsea. O mesmo, inclusive, chegou com fortes elogios à Callum Hudson-Odoi, destaque do clube nos últimos jogos do clube, deixando em aberto sobre a utilização dos jovens garotos lançados e utilizados outrora por Frank Lampard.

Conclusão

É claro que o futebol não é uma fórmula mágica em que tudo está predestinado a acontecer como sempre acontece, e que treinadores e jogadores mudam bastante a cada ano em suas formas de pensar e agir. Embora não seja o que o torcedor espera, Thomas Tuchel pode ter evoluído.

Em sua primeira partida, empate de zero a zero contra o Wolverhampton, não dá pra afirmar que já possuía seu DNA e suas características de jogo, até porque, pouco se teve tempo para isso. Com uma escalação repaginada, e até diferente do seu habitual, ainda precisamos de mais tempo de clube por parte dele para concluirmos algo a seu respeito, correndo risco de não sermos justos com o novo comandante.

Por fim, cabe dizer que mesmo não sendo o nome que queríamos, ou mesmo esperávamos, o fato é que é o atual e novo comandante, merecendo tempo e respeito para aplicar seus conhecimentos, suas táticas e sua filosofia. O que resta a nós é esperar que consiga reverter esse quadro ruim e que a equipe possa retomar ao rumo das vitórias, almejando coisas maiores para o restante da temporada 2020/21.

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