A possibilidade de uma “debandada” de jovens jogadores da academia do Chelsea tem preocupado boa parte da torcida Blue, principalmente depois da confirmação da transferência permanente do zagueiro Marc Guehi para o Crystal Palace no último domingo (18).
Nomes bem conhecidos pelos torcedores assíduos como Lewis Bate, Valentino Livramento e Myles Peart-Harris são mais três dos jovens da academia próximos de deixar o Chelsea nas próximas semanas, já que recusaram propostas de uma renovação contratual para buscar espaço em outras equipes. Mas porque tantos jogadores jovens estão deixando o clube tão cedo?
OS JOVENS APROVEITADOS POR FRANK LAMPARD FOI UM PONTO FORA DA CURVA
Com a chegada de Roman Abramovich em 2003, investimentos foram feitos para a academia do clube e diversos jovens jogadores foram cotados para fazer uma transição para o time principal. Esses jovens eram tratados como um dos melhores de toda a Europa em suas idades e não precisamos ir muito longe para lembrar de quão promissores eram Gael Kakuta, Slobodan Rajkovic, Islam Feruz, Josh McEachran e Jeremie Boga.
O Chelsea “gerenciava” o desenvolvimento desses jovens acumulando vários empréstimos durante os anos e vimos isso com uma frequência absurda na última década. Muitos destes jogadores não se tornaram o que prometiam, mas há aqueles que construíram carreiras de respeito dentro da Premier League após deixar o Chelsea como Ryan Bertrand, Patrick Van Aanholt e Nathan Ake.
Não tem como negar que a grande esperança para muitos jovens conseguirem fazer a transição da academia para a equipe principal do Chelsea veio com a chegada de Frank Lampard, somado com a proibição da inscrição de novos jogadores e o impacto causado por Mason Mount, Reece James, Tammy Abraham e Fikayo Tomori, todos crias de Cobham.
A afirmação desses jovens sob a tutela de uma lenda do clube deixou vários jovens da academia com a impressão de que poderiam seguir os mesmos caminhos e se firmarem no elenco principal.
O surgimento de Billy Gilmour e sua entrada no elenco principal, ganhando minutos na Premier League chamou muito a atenção e a impressão era de que muitos outros poderiam seguir o mesmo caminho, mas isso foi apenas ponto totalmente fora da curva na história recente do Chelsea.
BUSCANDO GRANDES NOMES NO MERCADO
Depois de ficer impedido de inscrever jogadores por uma janela de transferências e não se reforçar na janela do inverno europeu, o Chelsea não perdeu tempo e foi com tudo ao mercado para buscar as melhores oportunidades para se reforçar.
Nessa leva vieram nomes como Hakim Ziyech, um dos grandes destaques do Ajax semi-finalista da Champions League em 18/19, Timo Werner, artilheiro do RB Leipzig na Bundesliga, Kai Havertz, um dos grandes talentos do futebol mundial que estava no Bayern Leverkusen e Ben Chilwell, destaque do Leicester City, mostrando que as pretensões do Chelsea em voltar ao topo do futebol inglês sem necessariamente ser um clube que dê reais oportunidades aos jovens da base.
Enquanto isso Fikayo Tomori perdia cada vez mais espaço no Chelsea, principalmente com a chegada de Thiago Silva no início da temporada 20/21. Com isso o jovem da academia acabou sendo emprestado e posteriormente vendido ao AC Milan por cerca de 28 milhões de euros.
O Chelsea sempre foi um clube muito ativo no mercado de transferência, seja para contratar grandes jogadores ou para contratar nomes que possam dar um retorno financeiro no futuro e isso não será mudado para poder dar mais espaço para jogadores formados em Cobham.
NÃO HÁ ESPAÇO PRA TODOS OS JOVENS DA ACADEMIA NO CHELSEA
A base do Chelsea é considerada uma das melhores da Inglaterra, sendo muito competitiva e tendo revelado diversos jogadores muito promissores, mas que não tiveram reais oportunidades no clube. Patrick Bamford, artilheiro do Leeds United na última Premier League e Declan Rice, capitão e destaque do West Ham United são dois bons exemplos de jogadores que não ganharam oportunidades no Chelsea e deixaram o clube buscando espaço em outras equipes da Premier League e Championship.
Um exemplo mais recente é Tariq Lamptey, que disputava espaço com César Azpilicueta e Reece James na equipe principal do Chelsea, mas que optou por não renovar seu contrato com o clube e foi buscar oportunidades no Brighton and Hove Albion para jogar regularmente na Premier League. O denominador comum entre Tariq Lamptey e agora Valentino Livramento, Lewis Bate e Myles Peart-Harris, é que todos estavam em seu último ano de contrato e sem grandes expectativas de aparecer na equipe principal a curto prazo e ainda tendo jogadores já consolidados para disputar posição.
O SISTEMA DE EMPRÉSTIMOS DO CLUBE É CADA VEZ MENOS ACEITO PELOS JOVENS
Podemos estar vendo o fim do tempo em que o Chelsea podia enviar os jovens mais promissores de sua academia para outros clubes por vários e vários anos para seguir o seu desenvolvimento enquanto não possuem o devido espaço no elenco principal. Cada vez mais esses jogadores anseiam por minutos na elite do futebol inglês e têm a coragem de buscar espaço em equipes médias da Premier League e estamos prestes a ver isso com uma frequência ainda maior nos próximos anos.
A diretoria do Chelsea precisa estar ciente de que esses talentos não estão mais dispostos a esperar para esculpir uma carreira no clube porque eles simplesmente estão optando por fazer movimentos de carreira para serem bem sucedidos em outras equipes.
A ASCENÇÃO DE JOGADORES CADA VEZ MAIS JOVENS NAS EQUIPES DA PREMIER LEAGUE TEM A SUA PARCELA NA DECISÃO DOS JOVENS DE COBHAM
Com tantos jovens jogadores ingleses despontando em suas equipes principais cada vez mais jovens, é óbvio que os mais promissores jogadores do Chelsea não são atraídos pela ideia de sair por empréstimos para equipes da Championship e League One enquanto não há espaço no elenco principal sem ter uma garantia de que poderão fazer parte da equipe no futuro.
Não tenho dúvidas de que Tino Livramento poderia estar se destacando em uma equipe de Premier League tal como Jude Bellingham faz no Borussia Dortmund, garantindo seu lugar na equipe inglesa que disputou a Euro 2020, tal como Jamal Musiala tem se destacado no Bayern na Bundesliga e Tariq Lamptey no Brighton.
Mas o fato é que nem todos terão a paciência para esperar a oportunidade certa para fazer parte do time principal do Chelsea, principalmente no momento atual com tantos jovens talentos se destacando em grandes equipes da Premier League.
Cabe ao Chelsea buscar um equilíbrio entre manter e deixar jovens saírem do clube, visando abastecer o time principal nos próximos anos e essa é uma decisão que tem que ser tomada. Mas a verdade é que se foram os dias em que os jovens de Cobham acumulavam empréstimos atrás de empréstimos sem sentido enquanto permaneciam no clube.